terça-feira, 23 de novembro de 2010


Princípio da Continuidade Lateral e Lei de Walther


O Princípio da Continuidade Lateral, emitido por Nicolaus Steno, determina que aquando da deposição horizontal e paralela dos estratos em relação à superfície de deposição, estes estão limitados por planos que mostram a sua continuidade lateral, ou seja, em cada estrato existem mudanças bruscas ou graduais entre litologias. É possível estabelecer correlações entre sequências sedimentares de locais distintos, mesmo quando afastadas vários quilómetros. Esta teoria apresenta-se incompleta visto que os estratos se dispõem paralelamente à superfície de depósito mas não necessariamente horizontais. A aplicação deste princípio levou à designação “actual” de linhas isócronas às superfícies de estratificação.


 A Lei de Walther admite que, num ambiente sedimentar, num determinado momento, as litologias distribuem-se superficialmente com uma certa ordem ou polaridade regulada pelas condições genéticas existentes. Por outro lado demonstrou-se que a posição de cada uma das fácies ia sendo alterada ao longo do tempo devido a modificações do ambiente (como por exemplo devido às mudanças do nível das águas no mar, como explica Dawn Sumner da Universidade da Califórnia) o que provocou que fácies adjacentes pudessem sobrepor-se. 

Segundo esta lei, quando há transformações oblíquas[1], as fácies apresentam-se ordenadas simultaneamente no sentido lateral (formando associações de fácies) e vertical (formando sequências de fácies). A relação tridimensional da fácies é a associação da fácies e a expressão vertical da mesma é a sua sequência. 

Aplicando a lei à relação tridimensional da fácies, verificou-se que os limites entre as diferentes fácies mudam em relação à precedente e assim produziram-se mudanças oblíquas da fácies dos diferentes tipos. Cada sequência da fácies é o reflexo da mudança das condições que regem a sedimentação num determinado intervalo de tempo.

Ora para que os limites entre os litotopos sejam graduais e permaneçam na mesma posição, é necessário que haja o mesmo volume de sedimentos e de acomodação, assim haveria uma sequência estacionária (distribuição homogénea da fácies). Porém, o que normalmente acontece na natureza é haver uma sequência granocrescente ou negativa (o volume de detritos é maior do que a acomodação), ou uma sequência granodecrescente ou positiva (o volume de detritos é menor do que a acomodação). Deste modo Lombard contribuiu para este estudo com a sua análise sequencial.

Com o acima exposto pode-se concluir que Walther contribuiu para melhorar a teoria de Steno do “Princípio da Continuidade Lateral” no que respeita as suas insuficiências.


[1] Mudança oblíqua de fácies: Caracteriza-se pela simultaneidade dos processos de mudança vertical e lateral de uma litologia para outra o que da origem a um limite oblíquo que corta as superfícies isócronas. A diferença para as outras duas é que as mudanças oblíquas dão-se a pequena escala e em afloramentos concretos, sendo preciso uma pormenorizada observação das suas relações geométricas em superfícies com boas condições de observação que mostrem a distribuição da litologia e das superfícies de estratificação numa grande área.

Mudança lateral de fácies: Pode ser brusca de maneira que, a partir de um certo momento possam existir litologias totalmente distintas ou pode ser gradual e nesse caso verifica-se uma mudança progressiva de tipos de litofácies. As mudanças bruscas na litologia estão associadas aos limites entre dois ambientes sedimentares desiguais enquanto que as mudanças graduais ocorrem devido a pequenas alterações nas condições de sedimentação.



Bibliografia:

  • VERA TORRES, J. A. (1994) - Estratigrafia, principios y metodos. Ed. Rueda, 806p

  • João Pais, UNL